Turkish riot policeman uses tear gas against woman

Policiais turcos se preparam para usar gás lacrimogêneo contra uma mulher enquanto pessoas protestam contra a destruição de árvores em um parque na Praça Taksim, Istambul, na última sexta-feira (31/05). É o que mostra a foto publicada no jornal inglês, The Guardian. Uma imagem forte, cheia de significados, perfeita para representar o patriarcado que ainda paira nesses nossos tempos…

Aliás, tempinhos agitados esses nossos por aqui.

Às vezes, quando penso no coletivo, penso: Maldito o momento em que escolhemos (ou não) pairar pelo planeta como seres pensantes – ou não, nem sempre, enfim… Justo agora, com o mundo em plena ebulição socio-economico-politico-eco-cultural?

Olha, se eu soubesse da complexidade do furdunço global que a humanidade está vivendo, não teria vindo agora não! Época de prestação de contas nunca é uma boa temporada. Teria vindo antes, na era dos dinossauros. Algo mais selvagem, mais “corpo a corpo”… Uma vibe mais sincera, sabe, explicitamente mais irracional. Ah, pensar é tão mais desgastante. E outra, de repente vem um meteoro e pronto: está tudo “resolvido”!

Voltando à foto… Daqui uns anos essa imagem representará um tempo em que alguns “teimosos inveterados” ainda insistiam em usar suas energias e caras lavadas para tentar abrir os olhos de cegos por opção (também teimosos inveterados), meros seguidores de ordens, soldadinhos obedientes, defensores e paus-mandados de seus senhores / chefes / superiores / patrões / deuses… Seja lá quem for, “o cara”, o responsável, o culpado nunca é ele mesmo – ele é só um empregado / trabalhador / pai de família / cidadão / massa de manobra (ops!) cumprindo ordens. Nada bobo, quando quer se proteger, o soldadinho banca a clássica vítima do sistema e pronto, se safa.

Mas será que se safa mesmo? E será que compensa?

Soldadinho de chumbo (ou de gás) só é senhor da escolha de ser escravo de sua própria pseudo consciência tranquila, “isenta” de culpas e incômodos – algo que consegue por manter-se distraído com seus inquestionáveis deveres a cumprir.

Soldadinho de chumbo (ou de gás), a Pátria – essa grande lenda com fronteiras maternais – ser-te-á eternamente grata pela doação vitalícia de seu coração, mente e alma aos interesses que não te interessam saber, soldadinho! Já para o seu lugar!

Interesses que o fiel soldadinho jamais ousou sondar – até porque, em se tratando de lenda, o que importa é a fé e a obediência, não é mesmo, soldadinho?

– Sim, Senhor!

Muito bem.

Uma existência dedicada à pátria (mãe), ao governo (pai) e à ordem (filho obediente).

Quanta supremacia!

Como recompensa, caro soldado, que você possa ser poupado de todo tempo livre para refletir e questionar sobre o que de fato está fazendo da sua vida. Por quê? Para quê?

Por quem você dispara seu spray em olhos que ainda querem ver a Vida (a mulher, as árvores)?

Cedo ou tarde as “pulgas”, essas perguntinhas incômodas, aparecem “atrás da orelha” e infestam a mente. Delas, nenhuma alma escapa (nem as almas com mentes ocupadas).

– Árvores? Mulheres histéricas? Protestantes? O ar que eu respiro? What the f…?! Who cares? Essas porcarias não pagam meu salário, meu conforto, minha segurança de soldado. E esses manifestantes… ah!  Não passam de agitadores que perturbam a ordem.

– A ordem? , pergunta a pulga.

– Ah, me deixe em paz! , responde o soldadinho, fechando o cerco, como foi treinado a fazer.  (Pensar é tão mais desgastante.)

– E a paz do mundo lá fora? , insiste o ser saltitante.

– O mundo que se exploda! Vou cegar todos com gás!

O soldadinho, coitado, está cego de medo.

“A arma mais perigosa de um indivíduo é a teimosia em acreditar no triunfo de uma decência comum”. (Paul Rusesabagina no livro An ordinary man)

Paula Diniz

Mais fotos: http://www.guardian.co.uk/world/2013/jun/05/woman-in-red-turkey-protests?CMP=twt_gu

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